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Estou aqui sentada a ver os Jogos Olímpicos (JO), pois compete o Diogo Ribeiro e sou uma aficionada da Natação. Já fui atleta.
E sempre que chegam as provas dos JO dá-me sempre uma angústia por saber que podia ter ido mais longe, que me estava a desenvolver enquanto atleta e o meu pai simplesmente decidiu que eu deveria sair, pois poderia atrapalhar a escola e os meus resultados escolares.
Mais tarde, percebeu que seria o oposto. Quando aos 18 anos regresso e nota-se que ainda tenho uma performance brutal, onde muitos colegas diziam, porque não te tentas federar. Naquele tempo diziam que com 18 anos era velha. Hoje estou a ver um atleta de 1985 nos JO e tenho vontade de rir ou um misto de choro repreendido aqui dentro.
Mas voltando ao meu pai. Acredito que quisesse o melhor para mim, mas nunca ouviu o que eu queria, só o que ele queria. Roubou-me várias oportunidades. O meu pai foi culpado por muita coisa que não aconteceu na minha vida. Até poderia não ter dado em nada, mas ao menos tinha tentado.
O meu pai voltou todas as suas atenções para o meu irmão. Fiquei para segundo plano. Às vezes até sentia que ele me odiava profundamente. Talvez por dizer sempre o que penso.
Eu devia, na cabeça dele, ser calada, acatar tudo, namorar a partir dos 30 e ser médica (talvez).
Nunca aceitou bem o curso que eu quis seguir, foi contra até ao último ano de faculdade. E depois quando comecei a trabalhar no que queria ficou muito orgulhoso. Eu precisei do apoio dele lá atrás, não depois de todo o esforço que fiz sozinha.
Não queria que eu trabalhasse, não queria muita coisa. Vivia aprisionado num medo que nem eu compreendo bem. A minha sorte é que sempre fui resiliente e tive força para lhe fazer frente a partir dos meus 18 anos. Encaixei que estava numa idade que tinha de fazer por mim, porque por ele, eu tinha de ser brilhante, ser grande, mas não podia sair para o mundo. Era uma dicotomia muito estranha.
Ele nunca percebeu que cresci com traumas, com frustração por não conseguir ter a oportunidade de evoluir na natação, por não evoluir no canto. Sim, porque adorava cantar e quando tive uma audição marcada, não me levou. Foi triste. Lembro-me como se fosse hoje, era um dia de outono, nublado, chuvoso e ele simplesmente dizia: "Não te vou levar a isso." Nunca percebeu que foi matando os meus sonhos de criança. Um a um.
Como os pais, ao serem super protetores, não percebem que isso pode ferir uma criança para a vida toda, ou seja, aquilo vai com ela para a vida adulta. Acho que por isso me saboto tantas vezes e acho que nunca vou conseguir determinadas coisas na vida.
Em criança cheguei a desejar a morte do meu pai, tal era o terror psicológico que ele me fazia de notas, resultados escolares e ameaças se alguma vez tivesse um namorado.
Hoje, ele já não está entre nós. Isto dói e ao mesmo tempo a minha criança interior sente-se aliviada. E o meu eu adulto sente-se culpado por pensar nisto.
É um amor-ódio o que sinto pelo meu pai.
Nos últimos tempos da sua vida, já doente, tinha uma fixação por mim. Dizia que me via no hospital durante a noite, que o vinha tapar com um cobertor quando tinha frio. Acho que talvez fossem remorsos. Não sei. Mas sei que me fez muito mal e talvez nunca compreendeu a extensão disso.
Não me apoiou quando caí a uma cama do hospital e corri risco de vida. Nem me foi ver. Ficou lá em baixo e a minha mãe é que subiu e esteve pouco tempo porque ele estava com pressa. Pressa para ir para o café beber com os amigos. É triste ter um pai assim.
Depois disto, como poderia ver-me livre de um namorado asfixiante, mas que esteve sempre lá?
O meu pai não percebeu que me falhou.
Não percebeu que apanhei um esgotamento pela pressão que ele me fez para eu entrar na faculdade, porque todas as filhas dos colegas tinham entrado e eu não. Eu era uma mancha para as basófias dele, que adorava gabar-se, aos colegas, dos filhos. Eu para ele passava nada mais do que uma merda de miúda, provavelmente, que o fez cair no rídiculo. E não percebeu que o mais importante era a filha adolescente, a crescer com dores emocionais e a precisar de apoio.
Lembro-me de dormir mal e acordar com ele a entrar em casa às 2h da manhã, de vir dos copos, e saltar na cama de medo. Eu tinha medo dele. Eu vivi toda a minha infância com medo do meu pai.
Que raio de pai instiga terror na filha? Medo que ele me batesse. Medo que me ralhasse. Medo, medo e medo.
Como a minha criança interior não haveria de estar aliviada por saber que ele partiu?
E ao mesmo tempo ainda me lembro de ele perguntar se eu estava bem, já em adulta. De se preocupar comigo algumas vezes. De verificar a meio da noite se eu respirava, quando criança e adolescente. De falar comigo sobre música e filmes. De contar as suas aventuras de mocidade e falar do 25 de abril e como contribuiu para o mesmo. Mas são mais as coisas más do que boas.
O meu pai nunca me deu um abraço. Nunca me deu um carinho. Era tudo à estúpida. Para ele amar-me era não deixar faltar-me nada. Não percebeu que preferia carinho e atenção, do que ténis de marca ou a camisola da moda.
Respiro fundo. Isto tudo ainda dói. Mas sei que vivo melhor, porque já muito resolvi dentro de mim. Outras coisas nem por isso.
E hoje ao ver nadadores nos JO percebo como ele me privou de crescer, de tentar. Mesmo que não fosse a algum lado.
Enfim. Já foi. Uma oportunidade que passou e não volta mais.
Orgulho-me na mulher de 18 anos que me tornei e passei a não deixar que ele me influenciasse mais nas minhas escolhas. Aos 18 acabou. Fui ser o que eu sempre quis ser. E aí começou o ódio dele por mim. Já não me podia controlar.
O meu pai sempre foi frustrado profissionalmente. Sempre foi uma pessoa invejosa. Sempre falava mal dos outros. Algo que não quis cultivar em mim. Tive um manual vivo de: "O que não quero ser quando for grande."
Perdoa-me pai, por este desabafo. Mas tu fizeste-me muito mal. Foste um pai tóxico e não percebeste que me magoaste e feriste para a vida toda. Contudo, de alguma forma ainda tenho bons momentos e gosto de ti. E isso é que me dói mais, gostar de ti sabendo que tu não sabias retribuir.
Será sempre um amor-ódio.
Hoje foi um dia angustiante. Perceber que a nível de trabalho posso não ter lugar para me manter onde estou e preciso estar. Perceber que o meu chefe, se quiser, pode encontrar forma de garantir a vaga na equipa, mas por descomplacência ou por motivos que me são alheios não parece querer encontrar forma dessa vaga manter-se disponível.
Falei com uma colega da qual sou próxima e desabafei. Ela também muito triste pois quer trabalhar comigo, fizemos uma boa parceria de trabalho. Entretanto entrou em reunião e não falámos mais, mas deu para aquele desabafo.
Hoje, mais tarde, falou comigo e referiu que afinal o chefe pode ter uma forma de assegurar essa vaga. Tenho para mim que ela pode ter sondado ou ter falado/apelado por mim. Gosto de pensar que sim.
Agora é torcer muito os dedos, fazendo figas, e rezar que a sua mente se ilumine e consiga manter este meu lugar.
É o que eu preciso mesmo. Eu preciso de trabalhar aqui. Aqui já sabem os meus projetos pessoais, já estão adaptados a tudo e sabem como se mexer. Se for para outro lado posso não ter tanta flexibilidade. Para não falar no projeto profissional que estruturei para a rentré após as férias, mas que não tive oportunidade de mostrar dado que a vaga está em vias de cair.
A empresa ficaria a perder se eu levasse comigo este projeto, mas nada a fazer. Agora é esperar para ver o que dita o destino.
Mas quem consegue ter férias e descansar a cabeça sem saber o que lhe vai acontecer quando vier das férias?
Vão ser dias de angústia e confiar que de alguma forma os meus colegas sejam anjos em forma de pessoa.
Quantas vezes fui transparente e fiquei a perder com a minha transparência.
Quantas vezes contei informação minha profissional e alguém tirou vantagem e chegou primeiro.
Desta vez tentei ao máximo não partilhar informação sobre mim, sobre as minhas opções.
Até hoje. Até alguém questionar diretamente e eu saber que não podia esconder mais.
Não gosto nada de mentir ou omitir, mas desta vez para meu bem teve de ser.
Se vai resultar ou não, não sei. Mas preciso de um bom rumo profissional neste momento.
Preciso de me concentrar no meu projeto pessoal e para isso, o profissional tem de estar a correr bem também.
É tudo tão incerto. O que me causa só ansiedade e stress.
Só consigo controlar até certo ponto, depois fico nas mãos do destino ou de Deus.
Seja o que Deus quiser. E que o que Ele quiser, seja o melhor para mim.
Tive um bom feeling. Um feeling que o que eu queria que acontecesse, ia acontecer.
Lembrei-me de um episódio em criança, onde a minha professora primária sorteou um pequeno brinde entre os alunos.
E já em criança tinha uma mente sabotadora: "Não me vai calhar a mim. Só os outros têm sorte. Mas podia desta vez ser eu. Por favor, calha-me a mim o sorteio do brinde. Eu vou conseguir. Aquilo é meu. Eu vou conseguir. De certeza. Só pode. Aquilo é para mim." E para meu espanto o papelinho que foi tirado indicava que o brinde era para mim. Fiquei incrédula. Cheguei mesmo a pensar se aquilo tinha acontecido. Era eu uma criança e já tinha pensamentos derrotistas.
E esta semana, enquanto esperava por notícias profissionais, lembrei-me desse episódio. E pensei, "Vai acontecer. É para mim." E em seguida tenho um e-mail que indicava o que eu ansiava. Sorri.
E ao mesmo tempo nem podia acreditar. Existe uma esperança profissional no fundo do túnel.
Agora temos de aguardar pelas próximas novidades e pela próxima etapa.
Passinho a passinho.
E continuo a pensar no episódio de criança. Como nós, o nosso cérebro nos sabota de tal forma que acreditamos não sermos merecedores de determinado acontecimento.
Gosto de viver no positivo. Mas o problema dele é que quando caímos, é demasiado duro.
Deveríamos viver sem expectativas. Mas será que tem graça viver a vida sem esperar nada.
Aquela sensação de expectativas dá-nos alento. Alegria.
Viver sem essa emoção, será viver?
Depois podemos sofrer, é certo. Mas agora entra outra parte: saber lidar com isso. Com os nãos, com a derrota.
Também faz parte da vida. Processar e sobreviver ao que nos acontece ou gostaríamos que acontecesse e não aconteceu.
Prefiro viver na expectativa. Vive-se feliz. Mesmo que por breves instantes.
Permite mais criatividade, permite ter energia para levantar de manhã e fazer "coisas", manter projetos. Mesmo sabendo que corremos o risco de desabar num choro durante uma noite inteira, e contorcer-nos no sofá e não querar falar com ninguém nas próximas 24h.
Mas depois lambe-se as feridas e up, up. A vida prossegue para o próximo sonho, projeto, expectativa.
É assim que vejo. Talvez daqui a uns anos mude a minha perspetiva. Mas agora. Agora é isto que sinto.
A necessidade de falar ecoa muito alto.
Há coisas que falo e ninguém entende. Há coisas que não falo a ninguém. Há coisas que ninguém ouve atentamente. Há coisas que só escrevendo.
Este é O Caderno de Linhas que quero ter para poder escrever livremente.
É o meu Caderno.
Podem espreitar, ler, inspirar-se e quem sabe identificar-se.
São desabafos. E tentativas de entender a realidade que às vezes nos atropela sem nós sabermos de onde ela veio, nem como veio.