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09
Set24

Ida ao cabeleireiro

por April

Ir ao cabeleireiro é suposto ser para tratar disso mesmo, o cabelo.

Mas sinceramente acho que ir ao cabeleireiro é quase como ir a um lugar de catarse.

Cheguei ao cabeleireiro e ainda não tinham aberto a porta, pois atrasaram-se um pouco na hora da abertura. Entretanto chega uma senhora de 80 e alguns anos que me perguntou:

- "Ainda não chegaram?"

Ao que respondi - "Ainda não!"

E fiquei em silêncio, a senhora também.

Depois passado uns minutos, ela:

- "Sabe, aquela janela dali não fecha por causa de um ninho de andorinhas."

E dali veio uma conversa detalhada de janelas, limpeza, andorinhas, ninhos, obras e afins.

Percebi: Esta senhora precisa de falar. Vou ouvi-la atentamente.

Falámos depois dos exames médicos, da sua anterior doença e em como pode ter uma recidiva.

Encorajei-a, dizendo: "Vai ver que não vai ser nada!"

E ali estávamos a conversar.

Quando dei por mim senti muita vontade de ter uma avó novamente, de ouvir a voz dos mais velhos. Aquela senhora parecia daquelas avós que dá abraços aos netos, muitos beijinhos e faz aquele bolo de domingo fantástico.

Percebi que é tão bom falar com estranhos assim, mais velhos, sem obrigação, pelo puro prazer de ouvir histórias e desabafos que trazem sempre um quê de sabedoria pelo meio da conversa.

Aqueles cabelos brancos e aquelas rugas são a doçura mais pura de uma avó. Quase que pedi que me adotasse (não pedi, mas o meu eu interior gritava por ter uma avó assim), fiquei a imaginar aquelas casas das avós com toalhas de mesa antigas, bonitas; aqueles móveis muito polidos e a cheirar divinalmente a madeira; aquelas cozinhas muito limpas e de cheiro doce; aqueles lençóis que cheiram a sabonetes de outra época.

Que saudades de uma avó. E de um avô de riso rasgado forte e quase fanfarrão de tão contagiante que é.

Os avós são a magia doce dos netos.

Entretanto, nos meus devaneios enquanto conversava ao mesmo tempo com a senhora, vieram abrir o cabeleireiro. 

Conclui que os cabeleireiros são zonas de catarse, de encontros, de desabafos.

No final, espreitei para a senhora, agora sentada na cadeira de lavar a cabeça e disse:

- "Tudo a correr bem."

A avó com mel agradeceu.

Adorava ir ao cabeleireiro e poder encontrá-la novamente.

 


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