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Ainda não decidi o que lhe chamar. Se jantares a dois ou a solo.
Vi um casal a jantar, junto a mim, o tempo todo em silêncio.
Trocaram meias palavras para comerem e depois passaram o jantar todo em silêncio a olhar para os telemóveis.
Aquilo doeu-me! Fico a pensar se algum dia chegarei a esse ponto labirintico de uma relação. Estar a dois e jantar a solo com o telemóvel.
Sem qualquer tema de conversa.
Bem, poderiam estar tristes por algo. Nunca saberei. Mas sinceramente, não foi o que pareceu. Pareceu indiferença. É triste quando chegamos aqui. Indiferentes a tudo e a todos os que estão à nossa volta.
Os telemóveis roubarem tanta atenção ao ponto de não falarmos com a pessoa que está à nossa frente. Parece que perdemos humanidade.
É isso mesmo. Humanidade. Estamos a perdê-la.
Não olhamos para o outro, ignoramos o outro, fazemos questão de tentar ferir o outro porque também estamos feridos. A era da tecnologia tornou as emoções demasiado tecnológicas, frias, afastadas do sentir e do pensar.
Às vezes imagino que se inventará uma bolha, também ela tecnológica, onde para se jantar e se estar à mesa, a confraternizar, essa bolha envolve a mesa e deixa de existir internet. A dita internet só regressará depois de acabarmos a refeição, pagarmos e irmos embora.
Será que poderia ser assim?
As aulas começaram.
O meu entusiasmo era grande.
Ao fim de três dias estou que nem um caco.
A culpa não é da escola, é do maldito vírus (cvd19) que me veio visitar em julho pela segunda vez na vida. Da primeira tive mais sintomas durante e menos sintomas pós. Alguma surdez que passou e algum cansaço numas semanas e dores de cabeça durante um mês (ia dando em louca).
Entretanto, passados quase dois anos o bichano resolveu que tinha de me dar imunidade novamente.
Sintomas muito poucos. Um atchim aqui, um lenço acolá. Um cansaço estúpido durante 2 dias e a coisa terminou e fui à minha vida.
Passado umas semanas começo a sentir um novo cansaço, ao ponto de nem ter vontade de levantar os braços. "O que se passa comigo?" "Estou de férias, não há motivo para isto!"
Ao ponto de ter de ir ao hospital por me sentir nada bem. Será que há bichano a chatear novamente? Fiz teste, análises, e nada. Tudo bem. Opinião médica: "long cvd".
Fui melhorando, comecei a tomar umas vitaminas, arrebitei e tal. E as férias foram indo, mas tudo a passos lentos, sem muitas euforias porque sentia o tal cansaço desmedido se abusasse das atividades veraneias.
Já me sentia relativamente bem em setembro, este que estamos. Começam as aulas na segunda.
Segunda: aguentei-me bem.
Terça: já me arrastava.
Quarta: Quero atirar-me para a minha cama.
Quinta: Quando é que esta porcaria passa? - Desespero.
Alguém por aí que tenha passado por isto e esta coisa passou efetivamente? É que estou a sentir-me a esvair sem energia para nada.
Ando a fazer exames médicos: o coração está "nice". Análises "nice" também. Falta saber dos pulmões.
Bolas, quero voltar à minha vidinha normal. Pode ser?
Sério, não desejo isto a ninguém.
O tempo é o melhor remédio, dizem os médicos. Mas que raio, o tempo está a demorar a passar!!!
Só quero a minha cama, já nem é o sofá.
A minha mente está ativa, quero ir aqui, acolá. Fazer isto e aquilo. Arrumar isto e aquilo.
Até já andava aqui a congeminar mudar uns livros de lugar, arrumar melhor, porque tenho novos livros para ler, outros livros técnicos para explorar.
E "cadê" a energia para fazer isto tudo? Ai, juro que isto está a começar a ser aflitivo.
A mente quer fazer coisas, o corpo não corresponde.
Hoje sinto-me mesmo em baixo, já começa a afetar a mente.
Termos conceções erradas ou saber histórias dos outros pode deixar-nos à margem de pensamentos errados ou de ilações erradas.
Conversava com uma colega que me conta um episódio da vida dela e já tinha ouvido falar desse mesmo episódio por terceiros. A verdade é que a informação que me tinha sido dada estava ligeiramente errada.
Como se não bastasse no mesmo dia uma pessoa conversava comigo e falava sobre mim e sobre algo que me tinha acontecido. Tem graça que ela também não sabia a história como deve de ser.
Dei por mim a pensar que realmente o ser humano não tem a capacidade total de abarcar a informação real e muitas vezes a nossa realidade e os nossos pensamentos são deturpados pelo que pensamos ter ouvido ou dito por alguém que trazia a informação completa ou não, assim como um telefone estragado.
Tem graça, não é? Somos duvidosos no ouvir e no dizer.
Por isso devemos dar um desconto a nós mesmos e ao outros. Devemos dar um desconto ao que pensamos e ao que os outros pensam.
A realidade tem muitas versões, só uma é verdade e muitas vezes nós não sabemos qual delas é.
Por isso quando ouvir uma história vou pensar: "Hmmm, talvez não seja bem assim!" - como quem diz, vou dar um desconto, pois uma história mal contada ou mal percebida pode levar-nos a tomar atitudes erradas para com os outros e até para connosco. Para além do mais, até pode meter-nos numa valente trapalhada.
Por isso continuo a defender, "discutamos ideias e não pessoas", é melhor.
Calma e pára o baile que agora até sinto mais responsabilidade em escrever depois do "Destaque" do SAPO (perdoem-me, mas estou ainda um pouco embevecida pelo facto e a rebentar de orgulho, se calhar até nem é nada demais, mas deixem-me lá ser tolinha momentaneamente).
Ora bem, Rentrée - é disso que vim aqui falar.
Resumo de posts anteriores - Vaga para ocupar no emprego:
Fiquei com o emprego que queria, no local que queria. Ufa! Sofri durante as férias.
Quando recebi uma mensagem a dizer que tinha ficado colocada onde queria (pronto, pronto, vou revelar: sou professora) dei um grito no carro. O meu marido ia a conduzir assustou-se, a família sentada no banco de trás pensou que íamos ter um acidente e eu a chorar de alegria. Parecia cena de um filme de comédia romântica. Fiquei constrangida e a pedir desculpa à malta a noite toda pelo susto, mas pedi que me compreendessem pois estava numa ansiedade há semanas. Eles riam-se e aumentavam a cena só para me verem aflita. Malandros! (Amos-os!!!)
Chegada à escola na segunda-feira:
Fiquei a saber que vou ter os mesmos miúdos. Permitam-me: "Caraças, consegui!"
Eu já tinha uma estratégia toda escrita num papel caso ficasse lá.
O meu marido: "Mas porquê esse trabalho todo durante as férias se nem sabes que lá ficas e se ficas com os mesmos miúdos?" - pois, mas quando se gosta do que se faz até nas férias estamos a pensar na Rentrée e a conspirar que seja no mesmo sítio.
Eu adoro ver aqueles miúdos a superarem-se e adoro ainda mais ser eu o veículo da sua superação.
(Bolas, estou para aqui quase a chorar).
O pobre do meu marido triste pelas férias terminarem, eu ansiosa por regressar e ao mesmo tempo um misto de depressão pós férias. É uma dicotomia ser professor, quer-se ter férias e descanso, e ao mesmo tempo quer-se regressar. Pelo menos os que gostam (conheço mais colegas como eu).
A reunião geral de receção aos professores:
Caramba, há coisa mais bela do que vermo-nos todos outra vez? Distribuir beijos e abraços. Relembrar peripécias? Desconfio que não haja momento mais de alento do que este no início do ano letivo. Só mesmo o final do ano quando os miúdos nos agradecem e dizem que querem-nos para o ano como professores (os meus queriam fazem um abaixo-assinado - ri muito - não foi necessário a professorinha voltou).
Agora estamos em reuniões. Cada dia que me levanto para ir trabalhar é uma energia que penso: "Porque raio não me sinto assim o ano inteiro?" Vamos desmorecendo de cansaço, de burocracia em burocracia. Mas agora não quero pensar nisso, quero pensar nos meus miúdos e nas estratégias montadas para os levar ao sucesso. É ano de Exame Nacional senhores, deveras importante.
Esclarecimento:
Quando num post falei do meu chefe, é porque havia um horário que ele não sabia se ia colocar a concurso e se colocasse era essa a minha oportunidade de regressar (apesar de que o concurso dita as regras e podia sempre não me calhar). Regressei sim, suado, mas conseguido.
Os colegas analisaram e verificaram que iam precisar efetivamente de um horário completo já para este concurso de agosto. Isto de horários é mais complexo do que parece. Era para ser um horário de 15 horas, mas ao desdobrar turmas pode ficar-se com mais horas. A logística de uma escola é complicada. "Só quem está dentro é que sabe o que lá vai dentro". E os meus superiores são pessoas cinco estrelas e muito organizadas, mas este horário estava a dar dor de cabeça a toda a gente.
Muito entusiasmada por regressar onde tenho sido feliz nos últimos anos.
Feliz Ano Novo:
É nesta altura que sinto sempre a viragem do ano desde que me tornei professora. É quando começam novas oportunidades, vimos de cabeça descansada das férias, temos projetos novos para fazer acontecer, compra-se material escolar novo (my guilty pleasure), conhecem-se caras novas, revê-se as antigas (nem sempre, quando ficamos em outra escola), mudança de estação, ou seja, do calor para o frio, enfim, tudo o que exige uma mudança na vida.
Pela escola só se ouve entre docentes e não docentes: "Feliz Ano Novo!" ou "Bom Ano!"
Parece mesmo janeiro e eu adoro. Não há como não gostar deste carinho de comunidade de uma escola.
O melhor ainda está por vir:
O primeiro dia de aulas é sempre:
"Olha a Stôra!"
"Ficou cá outra vez, Stôra?" (com largo sorriso na cara)
Ou ainda não ter entrado na escola, mas pela vedação os miúdos dentro da escola vão me acenando e chamando. "Olá Stôra!" "As férias foram boas?"
É impagável o sentimento de gratidão que sentimos por termos dado tanto de nós a estes miúdos. É uma verdadeira recompensa: o carinho deles por nós.
Os meus miúdos!
Ansiosa pelo primeiro dia de aulas, já tinha dito?
Retrocedendo:
As férias foram boas. Acho que não apanhava um bronze (saudável) já há muitos anos. Tal foi a praia e a piscina que fiz este ano. Este ano foi à séria.
Deu para descansar.
Mal vi redes sociais. Foi mesmo família e livros. Televisão: "Salto de Fé!" - fiquei viciada, vinha para "casa" religiosamente (até é irónico) ver os episódios (RTP1, às 21h, viam?).
Percebi que posso ignorar a maldade se responder com bondade. Foi uma decisão que tomei durante as férias. Lembram-se do "Desadequadamente", pois bem, quem me responder mal, fizer mal ou falar mal de alguém à minha frente vou responder com bondade, dar a perspetiva positiva, dizer que não discuto pessoas, pode ser que o outro lado mude o mood. Está decidido. Quero lá saber da maldade dos outros. Quero o positivo. O lado bom. Eu sei que o lado mau existe, mas caramba, não o quero pra mim. Já me chega os infortúnios da vida, de saúde, económicos e por aí vai.
Que seja uma Rentrée cheia de momentos positivos, de aprendizagem e de dias felizes.
FELIZ ANO NOVO!!!